quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Nº 6

Inspirado no texto sobre ciência, resolvi escrever umas linhas sobre a escola austríaca de pensamento econômico. Apesar de ser sobre economia, espero que o texto agrade também a leitores de outras áreas de pensamento.

A escola austríaca é bastante lógica e coerente, sendo sua maior luta a defesa das liberdades individuais. A idéia principal é que o homem é um ser que age premeditadamente, que define suas ações a priori, e que ele estabelece metas e objetivos. Partindo disto, a escola austríaca estuda como que um indivíduo pode alcançar seus objetivos de modo mais eficiente. Vejamos o exemplo de um escravo.

Um escravo é um indivíduo que pode ser tratado como um objeto por seu dono, podendo ser vendido, agredido ou mesmo morto. Sabendo disto, o escravo tem de decidir se ele aceita obedecer as ordens do seu dono, ou seja, quem decide se ele vai trabalhar ou não continua sendo ele. Se ele tiver como objetivo principal sobreviver, ele provavelmente se decidirá por acatar as ordens ou até mesmo tentar fugir. De certo modo, ele ainda é livre para decidir.

Como o objetivo maior desta escola é a defesa das liberdades individuais, logicamente que ela não apoiará um sistema escravocrata. De acordo com ela, o ideal é que os indivíduos possuam o direito sobre a própria vida e sobre seus bens, que o mercado seja livre e que o governo interfira o mínimo possível, pois só assim estaria protegida a liberdade.

Eu acho esta escola de pensamento fascinante. O ponto de partida dela é simples: o indivíduo age propositadamente, ou seja, ele busca o máximo de satisfação possível. A partir disto, de uma análise lógica e de algumas hipóteses um tanto quanto triviais, ela chega a sua grande conclusão: Para ter liberdade, o indivíduo tem que ser livre.

Todo austríaco tem sempre a mesma resposta para qualquer problema econômico: os agentes têm que ser livres, pois assim o que for decidido é o melhor possível. Mas porque seria o melhor possível: porque ninguém melhor do que eu para decidir o que é bom para mim, o que implica que "ninguém tem o direito de obrigar àlguém a pagar por algo que ele não queira".

E com uma felicidade raramente vista fora de manicômios, eles criaram toda uma literatura para defender esta resposta. Examinam leis, casos hipotéticos, vasculham situações verificadas em qualquer momento da história. É tão simples que pouco custa fornecer exemplos:

- O governo deveria existir: Ninguém tem o direito de tomar o que é meu mesmo que via impostos, pois "ninguém tem o direito de obrigar àlguém a pagar por algo que ele não queira". Logo, se ele conseguir sobreviver sem cobrar imposto ele tem que apenas defender o direito de propriedade. O mercado fará o resto.

- A educação tem que ser pública: Não, pois ninguém tem cobrar impostos para financiar a rede pública e "ninguém tem o direito de obrigar àlguém a pagar por algo que ele não queira". Logo, deixe que o mercado encontre o ponto ótimo.

Para qualquer novo exemplo que alguém possa imaginar, lembre-se deste ensinamento quase bíblico, que "ninguém tem o direito de obrigar àlguém a pagar por algo que ele não queira". Lógico que existem diversos argumentos retóricos adicionais para justificar, mas só com a fé nesta máxima se é capaz de derivar todos os resultados.

O mais fascinante é como conseguir existir tal escola de pensamento, como eles conseguem andar em círculo com tanta vontade. De fato, eles falam em comportamento propositado, mas aparentemente o que eles mais fazem é correr atrás do próprio rabo.


Um comentário:

Thomas H. Kang disse...

Queria ver o Richard comentar acerca disso... hehe!